Briga com deputado federal impõe derrota e trava Kalil na Câmara
Por conta de uma briga, tem vereador de Belo Horizonte que, além de votar contra os interesses da população, ainda mente para ela. Cláudio Mundo Novo, secretário-geral da Câmara, membro de segmento católico e do mesmo partido do prefeito Alexandre Kalil (PSD), se absteve de votar projeto dele.
Em consequência, ficou contra os interesses da cidade quando ajudou a reprovar o projeto da Prefeitura de BH de empréstimo R$ 900 milhões na Câmara Municipal. Esse recurso estava destinado ao Programa de Redução de Riscos de Inundações e Melhorias Urbanas na Bacia do Ribeirão Isidoro na região da Vilarinho (Norte da capital).
A região é uma das mais castigadas pelas enchentes que ocorrem com frequência em sua avenida mais famosa, a Vilarinho. As inundações são provocadas pela cheia de rios e córregos e, todo ano, causam alagamento, destruição e morte.
A abstenção desse vereador foi decisiva para a rejeição do projeto, que teve 27 votos favoráveis e precisava de 28 para ser aprovado. Para justificar sua histórica omissão, Cláudio culpou a internet pela não participação na votação. Traiu o prefeito de seu partido e traiu a cidade. Logo ele que foi um dos dez vereadores mais votados de Venda Nova na última eleição.
Ligação e mensagem do além
Em seguida, o vereador Léo Burguês (PSL), líder de governo na Casa, disse, ao jornal O Tempo, que “uma pessoa que deveria trabalhar em prol da cidade” mandou mensagem às 14h53 para Cláudio. Era o deputado federal Marcelo Aro (hoje no PP).
Engana-se quem pensa que os destinos da capital mineira estão nas mãos e pensamentos apenas do prefeito e dos 41 vereadores. Há um 43º elemento que atua, influencia e, como agora, interfere na política municipal. Esse deputado federal, que não é mais vereador, está apitando e interferindo na política de Belo Horizonte.
A influência política dele nos destinos da cidade, e até de parte do Estado, é infinita e inversamente proporcional ao seu grau de conhecimento e importância. Faz política só de bastidores, onde é mais fácil esconder o real interesse pessoal e de grupos. A interferência negativa começou quando ele e o prefeito trombaram por conta da política estadual.
Aliança contra Venda Nova
Depois do confronto, ocorrido em fevereiro, Kalil perdeu o controle da maioria Câmara, onde detinha mais de 35 votos na gestão anterior. Aro tem o controle de sete vereadores de seu partido, entre eles sua mãe, professora Marli, e de outros partidos por ter patrocinado, até financeiramente, suas candidaturas.
Somados esses sete vereadores com outros seis de oposição, três do partido Novo e outros três bolsonaristas, chega-se ao saldo de 13, número de risco para o prefeito. Algumas votações importantes precisam de 28 votos favoráveis. Foi aí que o projeto mais importante do prefeito neste ano foi derrotado.
Os 13 votaram contra e outros 27 votaram a favor, um não vota que é o presidente da sessão, quase sempre, a presidente da Câmara, Nely Aquino (Pode). A matéria precisava de 28 a favor.
Agora a interferência estadual
A briga com o prefeito ocorreu quando Aro se meteu também na política estadual, onde seu pai, Zé Guilherme é deputado estadual. Ao tentar ajudar o governador Romeu Zema (Novo) a formar um bloco de apoio parlamentar na Assembleia Legislativa, Aro se indispôs com Kalil, que é pré-candidato a governador em 2022 numa futura disputa contra a reeleição de Zema.
Resultado, com o embate, Aro perdeu cerca de vinte indicações em cargos na prefeitura. E deu o troco. Como controla os sete votos na Câmara, manobrou para derrotar o prefeito na primeira votação de relevância. Foi aí que veio o azar da população da região de Venda Nova.
Aro não é mais vereador, mas como deputado federal atua como “vereador federal”, como dizem lá em Brasília. Como ajudou o governador, indicou, em compensação, dezenas de cargos na administração estadual.
Kalil que se cuide porque a base aliada tem maioria, mas não o suficiente para projetos de faixa constitucional, aqueles que exigem 28 votos. Em resposta, o que fez? O prefeito enviou e-mail ao seu secretariado, proibindo o atendimento pelas secretarias aos 13 vereadores que votaram contra (veja abaixo) e ao que se absteve (Cláudio Mundo Novo). A mensagem dizia que “somente o prefeito irá atender aos vereadores pessoalmente quando julgar necessário”.
Votaram contra Venda Nova:
Braulio Lara (Novo)
Ciro Pereira (PTB)
Fernanda Pereira Altoé (Novo)
Flávia Borja (Novo)
José Ferreira (PP)
Marcela Trópia (Novo)
Nikolas Ferreira (PRTB)
Professor Juliano Lopes (PTC)
Professora Marli (PP)
Rubão (PP)
Wesley (PROS)
Wilsinho da Tabu (PP)