Avanço nos tratamentos não dispensa prevenção ao câncer de mama
A terapêutica disponÃvel para o tratamento do câncer de mama é importantÃssima para a cura da doença, mas o Brasil só conseguiu baixar os Ãndices de mortalidade quando avançou significativamente nas ações de prevenção, com a realização dos exames de mamografia. Esse avanço, entretanto, esteve comprometido nos últimos dois anos, quando mais de 1.7 milhão de mamografias deixaram de ser realizadas só em 2020, em relação ao ano anterior, em função da pandemia da covid-19.
Estas e outras reflexões, e seus impactos na saúde da mulher, foram apresentadas nesta quinta-feira (27/10), durante seminário realizado pela Câmara Municipal, quando foi debatido o tema ‘Autocuidado e saúde da mulher no enfrentamento ao câncer de mama’. Além de parlamentares, participaram do encontro o oncologista do Instituto Mário Penna, Dr. Elias Magalhães e Abreu Lima; o médico da CMBH, Dr. Felipe Veloso; a coordenadora da Associação Pérola de Minas, Maria Luiza Oliveira, e a secretária-geral do Conselho Municipal de Saúde de BH, Edneia dos Santos. Como conclusão dos debates foi acertado o pedido para levantamento de toda legislação municipal e estadual em relação aos direitos das mulheres com câncer e a possibilidade de ajustes no orçamento para garantir que hajam recursos para a realização das mamografias, bem como o incentivo a iniciativas de destinações, por meio do orçamento impositivo. O evento integra as ações da CMBH para Campanha Outubro Rosa, realizada no mundo todo para alertar a população sobre o câncer de mama.
Prevenção e hábitos saudáveis
O câncer de mama é um dos mais comuns entre as mulheres no Brasil. Estima-se que 60 mil casos sejam diagnosticados todos os anos e uma em cada seis mulheres deve desenvolver a enfermidade. Segundo Dr. Elias Magalhães, a doença é mesmo frequente e, se não temos uma pessoa na famÃlia, conhecemos alguém próximo com o diagnóstico. Para o médico, terapias anticoncepcionais iniciadas na década de 1970 desencadearam uma incidência de câncer de mama, e a ingestão de pÃlulas, o uso de álcool, cigarro e a obesidade, aliado à falta de atividade fÃsica, ampliaram ainda mais estes casos.
Ainda de acordo com o especialista, embora a doença seja da condição humana, a boa notÃcia é que as chances de cura são extremamente positivas quando diagnosticada de forma precoce, e o Brasil avançou de forma consistente baixando os Ãndices de morte pela doença quando conseguiu prevenir de forma mais eficiente. “Temos exames que podem diagnosticar precocemente, elevando as chances de cura para até 95% dos casos. Mas quando a mulher já chega com a doença mais avançada, é porque não fez o rastreamento”, observou.
Menos 1.7 milhões de exames
O rastreamento a que o especialista se refere é a chamada mamografia de rastreamento. Segundo Dr. Felipe Veloso, a mamografia pode ser de rastreio ou diagnóstica. A primeira é feita quando a mulher está sem nenhum sinal ou sintoma do câncer de mama; já a diagnóstica é motivada por alguma alteração, sinal de lesão e/ou sintoma que a mulher tenha, pode ser caroço, ondulação, alteração no pigmento da pele e outras anomalias que não seguem o padrão normal da mama.
Dados trazidos pelo médico, entretanto, mostram que a pandemia da covid-19 teve impacto direto na realização de exames para o rastreamento do câncer de mama. Em 2020, o número de mamografias realizadas no paÃs caiu 40%; em 2021, a queda foi de 18%, totalizando 1.7 milhão a menos de exames realizados em 2020 em relação ao ano anterior. “Na pandemia houve uma sobrecarga dos hospitais com áreas inteiras sendo desviadas para atendimento da covid. Além disso, as mulheres ficaram em casa no home office, tiveram que cuidar dos filhos, dos pais e não fizeram os exames de mamografia. Foram 30 milhões de procedimentos médicos que deixaram de ser feitos, sendo a mamografia e o citopatológico (rastreio de câncer de útero) os mais incidentes”, afirmou Veloso, que lembrou ainda que o déficit nestes números tende a acarretar diagnósticos tardios e, consequentemente, tratamentos mais severos e invasivos, além da possibilidade do aumento nas taxas de mortalidade pela doença.
Ainda de acordo com o médico, embora a cobertura preconizada pelo Ministério da Saúde para a realização do exame de mamografia preventivo seja para mulheres de 50 a 69 anos, a cada dois anos, 15 a 20% dos casos de câncer de mama ocorrem em mulheres entre 40 e 49 anos, e realizar o exame anual aumenta as chances de cura.
Desigualdade no acesso
E se as chances de cura são superiores para pacientes que realizam exames preventivos, a desigualdade social aponta que a mulher pobre e sem escolaridade é então ainda mais penalizada. Dados trazidos por Veloso mostram que 77,8% das mulheres que têm nÃvel superior já fizerem a mamografia contra 49% das que não têm nenhuma escolaridade e, mais grave, 24, 2% das mulheres do paÃs nunca fizeram o exame. Já entre as mulheres que não têm renda, 42,9% já realizaram o exame, contra 83,7% das que ganham acima de cinco salários mÃnimos.
Márcia Fernanda, que participava do seminário, aproveitou o momento para perguntar sobre a dificuldade na realização dos exames na rede do Sistema Único de Saúde (SUS). “Falam tanto da importância da prevenção, mas quando vai fazer o exame demora até um ano para conseguir”, questionou.
Presente no encontro, Edneia Santos, secretária-geral do Conselho Municipal de Saúde, ressaltou que toda denúncia pode ser levada ao órgão e que os casos serão verificados. A representante disse ainda que o órgão está de portas abertas para receber todo tipo de demanda e lembrou que somente quando as reclamações são apontadas é possÃvel atuar, demonstrando assim, a importância da participação e do controle social. “O nosso silêncio dá ao poder público um recado, uma mensagem de que está tudo bem. Quando começam os cortes no orçamento, se não falamos nada, vão entender que está tudo bem e vão continuar cortando”, declarou.
Transformando a dor
Mas o câncer de mama transforma a história de vida de uma mulher; para algumas, uma mudança para melhor. E foi com este pensamento que Maria Luisa de Oliveira, diagnosticada com câncer de mama aos 27 anos, fundou a Associação Pérolas de Minas, que acompanha mulheres com o diagnóstico da doença. A presidente da entidade, que hoje atende e auxilia mulheres com câncer em todo o Estado de Minas Gerais, conta que quando recebeu o diagnóstico não tinha ninguém nem para conversar sobre o assunto. Para ela, que associa o surgimento da pérola no mar a um processo de dor, já que surge a partir de um grãzinho de areia que entra na concha, o câncer pode ser esse grãzinho que fará das suas vidas uma pérola. “Nunca achei que ia morrer. sempre acreditei na cura. Sou quem sou hoje porque passei pelo que passei. Então o câncer não foi uma coisa ruim na minha vida; e eu não podia passar por isso e depois não fazer nada”, conta a Maria Luisa, que distribui kits solidários, realiza visita a hospitais, acompanha mulheres durante a quimioterapia, ajuda com alimentação e medicamento e ainda apoia os familiares das pacientes.
Encaminhamentos
Fernanda Pereira Altoé (Novo), que presidiu a mesa dos palestrantes, agradeceu todas as contribuições trazidas e combinou que um efeito prático do encontro será pedir um levantamento acerca de toda a legislação municipal e estadual sobre o câncer de mama e os direitos das mulheres. Além disso, a parlamentar lembrou que é possÃvel atuar ainda na construção do orçamento municipal para garantir que haja mais recursos disponÃveis para a realização das mamografias, e que também os parlamentares podem ser incentivados a realizarem destinações por meio do orçamento impositivo para auxiliar nesta garantia.
Além dos citados, participaram do seminário as vereadoras Iza Lourença (Psol); Marcela Trópia (Novo) e os vereadores Cláudio do Mundo Novo (PSD); Reinaldo Gomes Preto Sacolão (MDB) e Wilsinho da Tabu (PP).
Superintendência de Comunicação Institucional – Câmara BH