4 - 6 minutes readEfeitos físicos e sociais da menopausa foram debatidos por especialistas
Reader Mode

Os efeitos físicos e sociais sofridos por mulheres na menopausa, bem como as políticas públicas adotadas pelo Município para o enfrentamento da questão, foram discutidos em audiência pública da Comissão de Saúde e Saneamento, nesta quarta-feira (19/10).  Ao justificar o tema, Claudio do Mundo Novo (PSD), que solicitou a audiência, defendeu a necessidade de debater e divulgar de forma ampla os conceitos de menopausa e de climatério, suas consequências e a importância de um acompanhamento médico individualizado e humanizado da mulher, cuja expectativa de vida vem aumentando.

Segundo o vereador, cabe ao poder público buscar medidas que promovam a saúde e a disponibilização de tratamentos atuais e eficientes. Para os especialistas, a falta de informação entre a população e também entre os profissionais ainda é uma barreira a ser transposta. Representantes da Secretaria Municipal de Saúde (SMSA) destacaram que a Prefeitura investe em capacitação profissional, o que precisa ocorrer de forma contínua. Além de ações de promoção da saúde da mulher, o Município oferece opções de tratamento hormonal e não hormonal, conforme preconizado pelo Ministério da Saúde, e estuda a possibilidade de viabilizar outra medicação. 

Desconfortos físicos e sociais

Representando a Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais, Ana Lúcia Valadares lembrou que, além dos sintomas clássicos como ondas de calor, incontinência urinária e secura vaginal, a chegada do climatério traz desconfortos como alterações do sono e irritabilidade. A médica explicou que as questões hormonais também têm repercussões cardiovasculares, óssea e cognitiva. “Todos esses sintomas impactam negativamente a vida da mulher pois interferem na qualidade do trabalho, nas relações sociais e até mesmo nos relacionamentos afetivos”, disse. 

Ana Lúcia destacou que a reposição hormonal é “padrão ouro” para tratar os sintomas até os 60 anos de idade. Ao abordar o tipo de tratamento disponível no Sistema Único de Saúde (SUS), a médica explicou que não existe terapia hormonal na rede pública: “Isto é um problema que vivencio todos os dias no Hospital da Santa Casa. As pacientes fazem o tratamento enquanto há amostras grátis disponíveis, pois não existe remédio fornecido pelo governo para o tratamento da menopausa”.

Falta de campanhas educativas

As alterações no organismo feminino após a menopausa foram destacadas pela cardiologista Marildes Castro. Os dados apresentados dão conta de que 30% da população morre em decorrência de doenças do coração, que matam sete vezes mais mulheres do que o câncer de mama. Segundo ela, atualmente, após a menopausa a incidência de doenças cardiovasculares aumenta consideravelmente, e a cada 10 infartados, 4,3 são mulheres. A necessidade de campanhas informativas também pautou a fala da cardiologista. Segundo ela, os ginecologistas, que acompanham a mulher boa parte da sua vida, devem encaminhar suas pacientes no climatério para os cardiologistas.  

Ao concordar com a falta de campanhas educativas, a médica Annamaria Massahud reforçou que a medida joga luz sobre o problema e movimenta a sociedade para debater sobre o assunto. Para ela, a partir do momento que a mulher tem noção do que está acontecendo com o próprio corpo, ela tem condição de cobrar políticas públicas para garantir mais qualidade de vida.

Orientação inadequada

Coordenadora do Grupo de Mulheres Menopausa Feliz, Adriana Ferreira apresentou dados que apontam um número muito pequeno de mulheres diagnosticadas com menopausa nas unidades de saúde do município, o que, segundo ela, não reflete a realidade.  “Médicos e enfermeiros não estão preparados para nos orientar. Entrei na menopausa precocemente, não fui diagnosticada e os tratamentos oferecidos para tratar os sintomas pioraram e muito a minha situação”, afirmou. A coordenadora também criticou a postura de alguns médicos que ignoram o desconforto que o climatério traz e afirmam que “é assim mesmo, vai passar. A senhora tem que se acostumar”.

Adriana foi enfática ao se queixar que o poder público não faz questão da participação popular na construção de políticas públicas. “Gostaria que, se vocês tiverem um outro momento, procurem nos ouvir enquanto público-alvo para de fato entenderem quais são os trâmites que nós passamos e entenderem a morosidade do sistema”. 

Capacitação e promoção da saúde

“É papel da secretaria capacitar os profissionais da saúde para que consigam entender o quanto o climatério interfere negativamente na vida de uma mulher”, afirmou a  referência técnica da SMSA, Amanda Arantes. Para ela, o maior desafio é “vencer a barreira da desinformação e desnaturalizar a perda de urina, as ondas de calor, a dor durante o ato sexual. Também é necessário desmistificar o tabu de que a reposição hormonal faz mal”, disse. 

Representando a Secretaria Municipal de Saúde, a ginecologista Cristiane Veiga assegurou que o atendimento da mulher climatérica  é uma das prioridades no município. Ela informou que a Prefeitura tem investido em capacitação, mas reconheceu que é um grande desafio fazer a formação dos profissionais, dado o tamanho da rede e a rotatividade dos trabalhadores, o que requer uma capacitação contínua. Segundo a médica, as unidades básicas de saúde contam com equipes multiprofissionais que promovem ações voltadas para a mudança de estilo de vida, oferecendo atividades físicas para alívio do estresse, cuidados com alimentação, além de exames preventivos e ações de promoção à saúde.  

Cristiane informou ainda que a PBH oferece opções de tratamento hormonal e não hormonal, sendo que a medicação segue o preconizado pelo Ministério da Saúde. Ao concordar que é preciso melhorar o atendimento farmacológico, ela explicou que a Prefeitura está fazendo um estudo para tentar viabilizar outro tipo de medicação além daquelas fornecidas pelo ministério. “Os custos serão arcados pela PBH”, disse. 

Assista à reunião na íntegra.

Superintendência de Comunicação InstitucionalCâmara BH