6 - 8 minutes readInvestimento em prevenção pode reduzir demanda por atendimento de emergência
Reader Mode

Gestores acreditam que tratamento adequado e contínuo de doenças crônicas pode diminuir procura por atendimento em UPAs

A falta de tratamento de doenças crônicas como diabetes e hipertensão pode ser um dos principais motivos da alta do número de usuários que buscam as Unidades de Pronto Atendimento (UPA) da cidade. A constatação foi feita por representantes da Secretaria Municipal de Saúde durante audiência pública realizada pela Comissão de Saúde e Saneamento nesta quinta-feira (11/5), que debateu os formatos de administração e parceria das UPAs, suas dificuldades em relação a insumos e pessoal, bem como as perspectivas futuras para melhoria de atendimento ao cidadão. A audiência contou com participação de vereadores e usuários do SUS-BH. Para os participantes do debate, solicitado pelo vereador Wilsinho da Tabu (PP), o investimento em prevenção pode melhorar o quadro e reduzir o atendimento de casos que só se tornaram graves devido ao não acompanhamento médico de pacientes crônicos. Segundo a PBH, 80% dos casos que chegam nas UPAs recebem a chamada “pulseira verde”, que representa casos menos graves que poderiam ser resolvidos no dia a dia, nos centros de saúde da cidade.

Mesmo com o fim da emergência de saúde pública da covid-19, decretado pela Organização Mundial de Saúde, os efeitos da pandemia ainda reverberam entre os moradores das grandes cidades, entre elas Belo Horizonte. Durante os últimos anos, muitas pessoas com doenças como diabetes e hipertensão reduziram os cuidados com essas doenças, consideradas crônicas, fazendo com que chegassem a um quadro de doença aguda. Isso pode ser detectado por meio do aumento no número de atendimentos desses casos nas UPAs da cidade. “Temos hoje um perfil de internação de 20% de pacientes com doença crônica não tratada direito durante a pandemia”, explica Raquel Felizardo, gerente de Urgência e Emergência da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte. Segundo ela, cerca de 80% dos casos atendidos nas unidades são de pacientes sem muita gravidade. “Algumas coisas são processo e há uma cultura da população em não se cuidar. Isso faz com que os casos se tornem agudos sem o devido controle da doença. A prevenção é o caminho. A gente foca muito em tratar a doença, mas temos que melhorar o processo de conscientização inclusive no entorno de BH”, salientou Raquel, respondendo a Wilsinho da Tabu sobre quais os principais caminhos devem ser tomados para melhorar o atendimento de urgência na cidade.

De acordo com Raquel, a UPA Norte, inaugurada há quase três anos, é hoje a que faz mais atendimentos na cidade. Foram 111 mil somente em 2022, sendo 80% dos pacientes residentes em BH e os outros 20% de cidades próximas à capital. Raquel destacou que recebe, três vezes por dia, um relatório sobre a situação de cada unidade e atualmente há um controle periódico desse atendimento. Ainda segundo a médica e gerente de urgência, houve um incremento no número de profissionais durante a pandemia, o que fez com que o tempo de espera em cada uma das unidades da cidade fosse reduzido. Atualmente existem nove UPAs, sendo uma em cada uma das regionais da cidade.

A manutenção desse quadro de funcionários é uma das preocupações dos vereadores e da comunidade, pois com o fim da pandemia, esse quadro de servidores pode ser reduzido. “Acho que as UPAs tiveram uma revolução por causa da pandemia. A pandemia provocou mudanças profundas na organização das unidades. Se ficarmos sem essas equipes que conseguimos por causa da pandemia, estaremos perdidos. Perder a chamada equipe covid é inadmissível”, disse o vereador Bruno Pedralva (PT), que é médico e trabalha como plantonista na UPA Barreiro. Bruno destacou também que acredita que a solução para as UPAs esteja no atendimento nos centros de saúde. “Muitos casos poderiam ser resolvidos nos centros de saúde”, destacou o vereador.

UPA Norte

A unidade que recebeu mais atenção durante os debates foi a UPA Norte. Localizada na avenida Risoleta Neves, 2580, no Bairro Guarani, a unidade foi inaugurada em agosto de 2020 e, segundo usuários, vive lotada. De acordo com a vereadora Loíde Gonçalves (Pode), há muita dificuldade em receber pacientes que chegam em situação de extrema urgência. “Na UPA Norte um paciente com muita urgência não consegue entrar”, disse a vereadora dando como exemplo um rapaz que teria se acidentado com linha de cerol. Para Marcos Silva, jornalista e conselheiro Municipal de Saúde, o local tem um terreno amplo, uma estrutura complicada e enfrenta alguns problemas, como a falta de vistoria do corpo de bombeiros. “Fiquei assustado com a questão da falta de Alvará de Combate à Incêndio. Bombeiros me informaram que estão esperando a PBH solicitar visita. Pode até ter coisas mais sérias, mas isso pra mim é assustador. Há corredores, que devem ser usados para caso de pânico, que estão ocupados com armários, reduzindo a capacidade de evacuação”, afirmou o conselheiro.

De acordo com Wanderson de Oliveira, assessor da Secretaria Municipal de Saúde, o Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB) já está sendo providenciado. “Já estamos finalizando. O projeto inicial era para o chamado Porte 1 e agora temos o Porte 3, que é para receber até 600 mil pessoas por mês”, explicou o servidor da PBH.

Os gestores da PBH também foram questionados sobre uma possível diferença de estrutura e qualidade de atendimento entre as nove unidades. Segundo a assessoria do vereador Wilsinho da Tabu, que tem visitado os equipamentos de saúde da cidade, a UPA Centro-Sul tem uma estrutura melhor, mais ampla, com funcionários uniformizados e equipes completas. “Porque as outras não seguem esse modelo, esse padrão de atendimento?”, questionou a assessoria. De acordo com Raquel Felizardo, as UPAs são classificadas por porte, mas trabalham com a mesma excelência. “A Centro-Sul tem parceria com a UFMG, mas usa os mesmos equipamentos. Ela é mais ampla, mas em termos de qualidade é a mesma. Não tem diferença na qualidade de excelência entre elas”, disse a gerente, concordando que há uma melhor adequação de espaço na UPA Centro-Sul.

Ausências de convidados

“Fizemos visitas técnicas e notamos procedimentos diferentes no funcionamento. Queríamos trazes esse conhecimento para melhorar o atendimento em todas as unidades”, disse Wilsinho da Tabu ao iniciar os debates para os quais foram convidados gerentes de saúde e das UPAs das nove regionais. Também foram chamados os secretários Municipais de Governo, de Saúde e de Planejamento, que não compareceram. “A PBH tem participado dos debates nessa casa e gostaria de saber porque os convidados não vieram. Vamos fazer uma moção de repúdio ao Executivo”, disse Reinaldo Gomes Preto Sacolão (MDB) que também participou da audiência e é presidente da Comissão de Saúde. “Não quero fazer desfeita com quem veio, mas o secretário (de saúde), mesmo tendo tomado posse hoje, poderia ter mandado mais alguém”, lamentou Cláudio do Mundo Novo (PSD).

Estou muito surpreso, mas tenho certeza que fizemos um debate de alto nível. Quero crer que as ausências sejam por causa da posse do novo secretário

vereador Wilsinho da Tabu

Segundo Wilsinho, o debate é importante e as presenças poderiam ajudar. “Estou muito surpreso, mas tenho certeza que fizemos um debate de alto nível. Quero crer que as ausências sejam por causa da posse do novo secretário”, disse o vereador, que convidou 29 representantes do Executivo. Danilo Borges Matias tomou posse nesta quinta-feira como novo secretário de Saúde do Município. Ele era diretor executivo do Hospital Metropolitano Dr. Célio de Castro, no Barreiro, e substituiu a médica Cláudia Navarro, que decidiu deixar o cargo.

“Os gerentes das unidades estão na frente para organizar as UPAs para a volta dos guardas municipais”, disse Raquel justificando a ausência dos gestores. Segundo a PBH, desde o dia 2 de maio, as Unidades de Pronto Atendimento da Prefeitura passaram a contar com a presença da Guarda Civil Municipal 24 horas por dia. A medida foi adotada nas nove regionais da capital, tendo sido determinada pelo prefeito Fuad Noman (PSD) em atendimento à demanda dos servidores da Saúde e do sindicato da categoria. O objetivo é evitar agressões e ameaças nesses equipamentos. “Sentimos falta no início dos debates, mas foi uma audiência muito proveitosa. Juntos podemos contribuir para uma saúde melhor da população”, disse Wilsinho ao agradecer a participação de todos.

Superintendência de Comunicação Institucional