Câmara cobra barreiras a veículos motorizados na orla da Pampulha
Fechamento da via protegeria quem pedala e foi apontado pelo vereador Gabriel como condição para votação de projetos da PBH
Em audiência pública para tratar de ações de enfrentamento à violência contra ciclistas no trânsito, nesta quinta (18/5), o presidente da Câmara Municipal, vereador Gabriel (sem partido), anunciou que não colocará em pauta nenhum projeto do Executivo até que a orla da Lagoa da Pampulha seja fechada para veículos, possibilitando o livre trânsito de ciclistas e pedestres. O objetivo seria garantir a existência de um espaço seguro para a circulação de bicicletas, tendo em vista a recorrência dos acidentes que têm vitimado usuários deste modal. Em abril deste ano, o ciclista Eduardo Lobato faleceu após ser atropelado na BR 040. Em maio, na mesma região, o também ciclista Thiago Bento ficou em coma após ser vítima de outro atropelamento. Meses antes, em fevereiro, José Afro Ruas Filho precisou amputar uma perna após sua bicicleta ser atingida por um veículo na Av. Cristiano Machado, na altura do Bairro Floramar. Os termos do fechamento da orla da Lagoa da Pampulha ainda precisam ser discutidos com o Executivo, de modo a definir a duração do período em que a operação vai ocorrer. Na audiência, promovida pela Comissão de Mobilidade Urbana, Indústria, Comércio e Serviços por solicitação do vereador Jorge Santos (Republicanos) e de outros 22 parlamentares, esportistas e ciclistas amadores elogiaram a medida, além de defenderem a ampliação da malha de ciclovias da cidade e a construção de uma cultura de paz no trânsito, como instrumento para evitar novas tragédias.
Segundo Gabriel, há dois anos ele vem solicitando ao Poder Executivo a disponibilização da Av. Otacílio Negrão de Lima para a prática de ciclismo pelos moradores da cidade, sem que a proposta tenha sido efetivamente implantada. O parlamentar acredita que a medida não traria impactos significativos para quem circula na região, tendo em vista que, não raro, o local é fechado para a realização de corridas, maratonas e outros eventos. A intervenção, além disso, encontra par no que ocorre em outras capitais, como São Paulo e Rio de Janeiro, onde a orla das praias de Ipanema e do Leblon servem ao mesmo propósito. Ainda segundo Gabriel, os termos do fechamento poderiam ser decididos após a realização de testes, por meio dos quais seria possível avaliar a duração, os dias e os horários mais convenientes para o impedimento da via. “O que não podemos é ver mais corpos de ciclistas estendidos nas ruas da cidade”, defendeu, condicionando a votação de projetos do Executivo à realização da intervenção no entorno da Lagoa da Pampulha.
Respeito e fiscalização no trânsito
Conforme destacou o vereador Jorge Santos, requerente da audiência, o respeito às leis de trânsito é condição indispensável para garantir a segurança de todos. O parlamentar manifestou indignação com a recorrência dos acidentes na rua da cidade e destacou a importância da fiscalização, tendo lembrado que, muitas vezes, os atropelamentos ocorrem pela imprudência de motoristas e pela irresponsável combinação de álcool com volante.
Na mesma perspectiva, ciclistas presentes na reunião – entre os quais a viúva de Eduardo Lobato, falecido em atropelamento ocorrido na BR 040, e José Afro Ruas Filhos, vítima de grave acidente no Floramar – defenderam a criação de uma cultura de respeito e responsabilidade no trânsito, além de punições efetivas contra quem coloca a vida do próximo em risco. Ponto de vista semelhante foi manifestado pelo vereador Wesley Moreira (PP) e pelo deputado estadual e ex-vereador de BH Doorgal Andrada, que cobrou intensificação da fiscalização e das blitzes como forma de desestimular e combater condutas imprudentes.
Ampliação de ciclovias
No entendimento do vereador Jorge Santos, o enfrentamento do problema passa ainda pela ampliação e melhoria das ciclovias disponíveis na cidade. O parlamentar criticou a limitada dimensão da malha cicloviária de BH, além de apontar sua descontinuidade, o que dificulta o dia a dia de quem decide exercer o direito de se locomover sobre duas rodas, seja por esporte ou para ir ao trabalho e realizar seus afazeres.
Coordenadora de Sustentabilidade e Meio Ambiente da BHTrans, Eveline Trevisan destacou que, atualmente, Belo Horizonte conta com cerca de 100 km de ciclovias, embora o programa Pedala BH, criado em 2005, projetasse a implantação de pelo menos 400km de vias para ciclistas na cidade. De acordo com a gestora, apesar dos avanços recentes, materializados na implantação de ciclovias na Av. Augusto de Lima, no âmbito do programa Centro de Todo Mundo, a infraestrutura disponível ainda não é a ideal.
Os esforços para ampliar a malha, segundo ela, encontrariam entrave na resistência de alguns setores da sociedade, como comerciantes e proprietários de empreendimentos instalados no entorno das ciclovias, que em muitos casos pressionam pela não implantação dos equipamentos. A situação evidenciaria a dimensão do embate político implicado na construção de uma cidade que acolha melhor os seus ciclistas. “É urgente que a sociedade compreenda a necessidade de proteger aquele que escolheu a bicicleta como um modo de se deslocar”, ponderou Eveline Trevisan, destacando a necessidade de uma mudança efetiva na ótica social utilizada para abordar o tema.
A esse respeito, Gabriel afirmou que espera realizar reunião com representantes da Prefeitura, no intuito de debater e estimular políticas voltadas à ampliação das ciclovias. Da mesma forma, o parlamentar defendeu a realização de campanhas educativas pelo poder público, com vistas a fortalecer a civilidade no trânsito e o respeito ao ciclista.
Também estiveram presentes na reunião, entre outros, os vereadores Braulio Lara (Novo), Wanderley Porto (Patri) e Wilsinho da Tabu (PP).