Ex-diretor do Atlético depõe e nega irregularidade em pagamento à Unitour
O Clube Atlético Mineiro nunca efetuou pagamentos em dinheiro vivo à agência de turismo Unitour no período de 2009 a 2019, época em que Carlos Antônio Silva Fabel era diretor financeiro do time. A afirmação foi dada pelo próprio dirigente, ao ser ouvido na manhã desta quinta-feira (13/4), na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) – Abuso de Poder na PBH, que apura indícios de utilização da estrutura pública da Prefeitura para favorecimento pessoal e de terceiros, durante a gestão do ex-prefeito Alexandre Kalil.
Na oitiva, Carlos Fabel, que foi dirigente financeiro na campanha de Kalil ao cargo de prefeito em 2019, disse há documentação sobre todas as movimentações feitas pelo clube, e que todos os pagamentos que fazia eram mediante nota fiscal. A CPI definiu por realizar duas novas convocações: Lucas Couto de Souza, que deverá prestar depoimento acerca da sua nomeação em cargo comissionado na PBH; e Thiago Penido Martins, advogado que deve esclarecer acerca dos documentos juntados no processo judicial entre a PBH e o ex-prefeito, acerca de débitos de IPTU. Confira o resultado completo da reunião.
Responsável pelo pagamento
Carlos Antônio Silva Fabel é sócio, juntamente com sua mãe, na Art Sport. A empresa, que oferece consultoria administrativo-financeira, foi contrata pelo Atlético em 2009 e Carlos atuou como pessoa física, trabalhando no clube até 2019. Segundo o diretor, quando entrou no Atlético, a Unitur – Universal Turismo Ltda já atuava como fornecedora do clube e quando deixou o cargo, a mesma ainda mantinha a condição.
Fabel explicou que na função de diretor financeiro lhe cabia apenas o pagamento dos valores devidos aos mais de 300 fornecedores. Questionado pelo presidente da CPI, Wesley Moreira (PP), se havia cotações de preços de viagens, hotéis e outros serviços, o ex-diretor explicou que não, pois isto cabia ao setor que demanda a compra. “Quando era viagem de atletas, o diretor de futebol já me mandava tudo pronto. Com hora do vôo, nomes dos atletas, hotel que iriam ficar. Já chegava tudo definido e assinado e eu apenas fazia os pagamentos”, explicou.
Questionado pelo presidente se havia pagamentos que eram feitos em dinheiro vivo, Fabel afirmou que nunca houve pagamentos em espécie e que logo que chegou eram utilizados cheques para alguns pagamentos, mas que ele substituiu tudo por pagamento por meio de Transferência Eletrônica Disponível (TED).
Segundo Carlos Fabel, em 2017, já na gestão do presidente Sérgio Sette Câmara, uma nova agência de turismo começou a fornecer serviços ao clube, mas a Unitour também continuou sendo demandada. Perguntado se as tratativas com a Unitour eram feitas com a dona da empresa, Eloá Maria Starling Mendes Ribeiro, e se ela tinha o costume de ir pessoalmente ao Galo, o ex-diretor disse que a mesma estava sempre à frente, embora ele não tratasse com ela diretamente. “Os diretores de futebol é que faziam contatos com ela e com as funcionárias dela. Quando ela me procurava era porque tinha algum pagamento atrasado. Aí eu via o que tinha de nota já faturada e tentava pagar ao menos parte”, contou, lembrando-se de que a gestão era difícil, pois eram muitos pagamentos e poucos recursos.
Documentação sumida
A Unitour Universal Turismo também prestou serviços à Prefeitura durante a gestão do ex-prefeito Alexandre Kalil. Segundo a relatora da CPI, Fernanda Pereira Altoé (Novo), as notas fiscais dadas pela empresa ao Atlético são bem parecidas com as fornecidas ao Município e apresentam pouco detalhamento do objeto.
Informando o ex-diretor sobre resposta dada à CPI pelo Atlético de que haveria registro apenas de notas do ano de 2018 relativas à contratação da empresa de Eloá – que prestou serviço ao clube por pelo menos uma década -, a relatora pediu explicações. Carlos Antônio Silva Fabel mostrou-se surpreso: “Não pode ter sumido a documentação. Eles podem ter dificuldade com a implantação do novo sistema. Mas tem caixas com balanços lá. Os balanços são assinados, precisa ter tudo lá. A documentação tem que existir”.
Perguntado se sabia de alguma relação de Eloá Starling e Kalil, o ex-diretor disse desconhecer o assunto e confirmou, que na campanha à reeleição do ex-prefeito, em 2019, atuou como diretor financeiro, tendo prestado serviço por meio de sua empresa. Fernanda Pereira Altoé advertiu o depoente de que a lei não permite a contratação de pessoa jurídica para a prestação de contas de campanha, ao que o ex-diretor disse, porém, que nunca foi informado, que recebeu normalmente, via fundo eleitoral, e que o dinheiro recebido foi depositado em conta em nome da sua empresa.
Novos depoimentos
Ainda na reunião, parlamentares decidiram por realizar duas novas intimações, que devem ocorrer no próximo dia 20 de abril. Às 9h30, o advogado Thiago Penido Martins deve prestar esclarecimentos acerca dos documentos juntados no processo judicial entre a PBH e o ex-prefeito, acerca de débitos de IPTU (processo nº 6119259- 50.2015.8.13.0024). Em seguida, às 10h, Lucas Couto de Souza deve ser ouvido sobre sua nomeação em cargo comissionado na Administração Pública Municipal. As convocações são assinadas por Fernanda Pereira Altoé, Ciro Pereira (PTB), Cleiton Xavier (PMN), Uner Augusto (PL) e Wesley Moreira, e as oitivas serão realizadas no Plenário Helvécio Arantes.
Além do presidente e da relatora da comissão, participaram da reunião os vereadores Cleiton Xavier, Wilsinho da Tabu (PP) e Cláudio do Mundo Novo (PSD).
Assista à íntegra da reunião.