Cultura masculina que dispensa o autocuidado dificulta realização de exames
A importância da prevenção ao câncer de próstata e do tratamento aos sintomas da andropausa e outras doenças que acometem os homens adultos foi debatida pela Comissão de Saúde e Saneamento em audiência pública, nesta quarta-feira (30/11). Silencioso, o câncer de próstata é rastreado pelas unidades básicas de saúde por meio de exames de sangue (Antígeno Prostático Específico – PSA) e do toque da próstata, a partir dos 45 anos em pacientes com histórico familiar e na população geral em homens acima de 50 anos, segundo a Prefeitura.
Mas, de acordo com especialistas, preconceitos e padrões inalcançáveis de masculinidade podem contribuir para que o homem não busque prevenir a doença e tratar a impotência sexual, muitas vezes associada à queda hormonal própria da idade. Nesse sentido, a quebra de estereótipos e o estímulo ao autocuidado fazem toda diferença para a preservação da saúde do homem.
Chamando atenção para o Novembro Azul e associando a campanha sobre a saúde do homem ao reconhecido Outubro Rosa, Cláudio do Mundo Novo (PSD), que solicitou a audiência, lembrou a passagem dos dias 17 e 19 de novembro, respectivamente, Dia Mundial de Combate ao Câncer de Próstata e Dia Internacional do Homem. Para ele, com mais informação e sem preconceito, o homem tem mais chance de diagnóstico precoce do câncer de próstata. José Ferreira (PP), Rubão (PP), Fernando Luiz (PSD) e Wilsinho da Tabu (PP) enfatizaram a importância do evento para defender a vida e combater a resistência contra o exame de toque. “Por conta de um orgulho, o homem pode perder a vida”, ressaltou Rubão. O assessor jurídico do vereador Wilsinho da Tabu, Wagner Diniz, que faleceu recentemente devido ao câncer recebeu uma homenagem especial.
Atendimento na rede pública
Representantes da Secretaria Municipal de Saúde explicaram que o atendimento para o diagnóstico ao câncer de próstata é feito nos 156 centros de saúde de Belo Horizonte, onde, diante de um histórico familiar ou de sintomas apresentados pelo paciente, é solicitado o PSA, um marcador que auxilia a detecção do câncer de próstata. Outra maneira de detecção da doença é o exame de toque, realizado por um urologista ou médico de família. Francieli Jamaica, enfermeira e coordenadora da Atenção Integral à Saúde do Adulto e do Idoso, explicou que a andropausa é uma queda de hormônios como a testosterona, que pode ter ou não repercussão na saúde do homem. Quando o paciente apresenta sintomas, ele é encaminhado para um urologista ou endocrinologista, e é feito um rastreamento. A coordenadora acrescentou que a procura de prevenção e tratamento e a busca de modificação de hábitos são o grande desafio da população masculina adulta também no enfrentamento de doenças cardiovasculares, hipertensão e diabetes.
“O câncer de próstata, em geral, não apresenta sintomas”, alertou a médica da família Aline Franco, referência técnica da Coordenadoria de Atenção Integral à Saúde do Adulto e do Idoso. Ela disse que é possível, mas menos provável, que o homem apresente sintomas como dificuldade de urinar e uma sensação de peso no assoalho pélvico. Segundo a médica, o rastreamento da câncer de próstata nos centros de saúde é feito a partir dos 45 anos em pacientes com histórico familiar e na população geral em homens acima de 50 anos.
Desconstrução do machismo
Psicólogos e psicanalistas da Sociedade psicanalítica Summus de Minas Gerais discutiram as dificuldades que os homens adultos têm em priorizar a prevenção e o diagnóstico das doenças em debate e de outras como diabetes. Eles afirmaram que estereótipos de força e performance inatingíveis podem atrapalhar a necessidade de cuidado que todos precisam na vida adulta e durante o envelhecimento. Osvaldo José da Silva Junior afirmou que o sujeito que foge da prevenção e do cuidado pode ter a fantasia de que se procurar uma doença, pode encontrar, e se não procurar, não irá encontrá-la. Ele ressaltou que cuidar de si requer “força, cultura e conhecimento”. Andrea Caldas acrescentou que a cultura machista se manifesta de forma diferente entre os jovens, e deve ser desconstruída. Jefferson Manuel Dias de Paula defendeu a necessidade de o homem sair do senso comum: “o que o outro fala pode até me afetar, mas não me desestabiliza”. Rogério Moreira de Paula refletiu o homem que se ocupa com o poder não tem tempo para o amor às pessoas e a si mesmo, e acrescentou que o verdadeiro poder inclui o cuidado, inclusive o da alma.
A sexóloga Joelma Sabino Costa disse que existe uma cobrança muito grande a respeito dos homens acima de 40 anos, criados sem educação para prevenção e em um ambiente em que não podem errar e têm que proteger e sustentar. Sem tempo para refazer forças, eles acabam não olhando para si e rejeitam a ideia de irem a um urologista ou psicanalista por não aceitarem a possibilidade de estarem doentes. Nesse ambiente, muitos homens apresentam diabetes e andropausa e não se tratam. Joelma afirmou ser importante “valorizar a beleza que ele é enquanto homem” e a possibilidade de “descansar em si mesmo”, defendendo ser importante que o homem possa se reeducar, passando a considerar um sucesso alcançar seus próprios limites. A cidadã Rosilene Aparecida enviou mensagem contando que o esposo fez exame de próstata com 40 anos, o resultado foi negativo e ele foi aconselhado a repeti-lo aos 45 anos. Ao fazer exame no ano seguinte, detectou o câncer de próstata, se tratou e está curado.
Assessor parlamentar de Cláudio do Mundo Novo, o psicólogo Reinaldo Carlos disse ter se surpreendido com o enfoque dado à questão da saúde pública nessa legislatura. Integrante de um grupo de reflexão masculino católico, Carlos também defendeu a importância de repensar o machismo estruturante da sociedade, que gera uma carga excessiva nos homens, e do estímulo ao olhar interno e ao cuidado de si. Joelma Sabino Costa deixou um apelo para que os homens se cuidem e se vejam com amor, porque toda a humanidade precisa deles. Rubão disse que a cultura mudou, os homens devem se cuidar para cuidarem da família e as mulheres devem ser respeitadas e estarem onde quiserem. O debate sobre esta e outra questões do universo masculino deve continuar em novos encontros, assegurou Cláudio do Mundo Novo.
Superintendência de Comunicação Institucional – Câmara BH