PBH proíbe secretários de receber vereadores que vetaram empréstimo
Por O Tempo
Um e-mail enviado pelo gabinete do prefeito Alexandre Kalil (PSD) a membros do primeiro escalão do Executivo, como secretários de governo, acabou vazando para vereadores. Na mensagem, uma das responsáveis pelo gabinete de Kalil diz que o chefe do Executivo determinava que, desde a última semana, estava proibido o atendimento pelas secretarias a 13 vereadores.
Todos eles votaram, recentemente, contra o empréstimo de R$ 900 milhões que seriam destinados ao Programa de Redução de Riscos de Inundações e Melhorias Urbanas na Bacia do Ribeirão Isidoro, na região do Vilarinho.
Na ocasião, em entrevista a O TEMPO, o prefeito disse que não aceitaria mais ser questionado por enchentes na região e que a população deveria cobrar do Poder Legislativo. O e-mail aponta, ainda, que “somente o prefeito irá atender os vereadores pessoalmente quando julgar necessário”. Interlocutores, entretanto, afirmam que não há previsão desse encontro e que nenhum dos parlamentares teoricamente vetados procurou o chefe do Executivo até o momento para uma agenda. Pelas redes sociais, vereadores listados reclamaram.
Em contato com o Aparte, o secretário de Governo, Adalclever Lopes, avaliou que o prefeito “está certo” e entende que Kalil quer receber os parlamentares um por um para entender o que motivou o voto contrário ao empréstimo quase bilionário.
“Uma obra social tão grande, com repercussão dessa, ele (prefeito) está querendo entender, eu mesmo não entendi por que negaram. Se falar que é oposição por oposição, acho que isso não existe mais. Ele quer entender se tem alguma coisa errada. Direito de votar contra, todo mundo tem, cada um vota como acha, mas votaram ‘sim’ no primeiro turno e não votaram agora. O prefeito não falou que os vereadores estão proibidos, falou que, (em caso de ) qualquer solicitação, queria que fosse diretamente por ele”, afirmou Lopes. Ele entende que os vereadores listados terão um “atendimento especial” para que o prefeito entenda os motivos para a votação.
Procurada, a prefeitura informou que o “prefeito não está se negando a dialogar com nenhum parlamentar”. “Muito ao contrário, quer atendê-los pessoalmente, até para que possa entender por que eles votaram contra um projeto tão importante para a cidade”, diz o comunicado.
Já o prefeito disse que a mensagem era pública e que segue a linha do primeiro mandato de quem quiser “falar com o prefeito, vai no prefeito”. Ele rechaçou que os parlamentares estejam vetados de entrar na prefeitura e que se quiserem, “é só marcar” uma agenda.
A “lista de vetados” é composta pelos vereadores Ciro Pereira (PTB), Wesley AutoEscola (PROS), Flávia Borja (Avante), Fernanda Pereira Altoé (Novo), José Ferreira (PP), Marcela Trópia (Novo), Nikolas Ferreira (PRTB), Juliano Lopes (PTC), Professora Marli (PP), Rubão (PP), Wilsinho da Tabu (PP), Bráulio Lara (Novo) e Cláudio do Mundo Novo (PSD).
Líder do bloco Somos BH, que tem seis vereadores entre os 13 listados, Juliano Lopes (PTC) disse que o grupo está aberto ao diálogo, mas que vê com tristeza a forma como o Executivo lidou com a rejeição ao projeto. “A partir do momento em que você vota contra o prefeito e ele fecha as portas pra você, a gente vê isso como desprezo, irresponsabilidade e autoritarismo”, afirmou.
Marcela Trópia, líder da bancada do Partido Novo na Casa, está na lista junto com os outros dois colegas de legenda. Para ela, os vereadores da sigla sempre deixaram claro que atuariam de maneira independente e que não seriam “oposição por oposição”. “Ao contrário, votamos ‘sim’ sempre que entendermos que o projeto faz sentido. A gente sempre soube das nossas diferenças com a gestão Kalil, mas a cidade ganha quando conseguimos encontrar consenso. Esse e-mail só demonstra que, da outra parte, a abertura ao diálogo não existe e quem perde nisso é o cidadão”, pontuou.
Nikolas Ferreira (PRTB) também integra a lista dos “vetados”. O vereador disse que é uma honra estar entre os barrados porque não gostaria de ter a afeição de uma pessoa como o prefeito. Sobre a proibição de atendimento aos colegas, Ferreira avaliou como “uma afronta e um desrespeito” e que diversos ofícios enviados por ele já foram ignorados pelo Executivo.
Ciro Pereira (PTB), que não integra mais nenhum bloco parlamentar, também está na lista. Ele considerou o e-mail uma atitude “autoritária, desnecessária e desrespeitosa com o Poder Legislativo” e que não está focado em disputas políticas. O parlamentar disse que já esteve com o prefeito recentemente – na véspera da votação do projeto – e deixou claro que faltava clareza na proposta, o que não foi sanado.
A coluna tentou contato com Flávia Borja e Cláudio do Mundo Novo, mas eles não responderam até o fechamento da edição.
Foto: Léo Fontes / O Tempo