‘Novatos’ querem que Câmara de BH deixe as páginas policiais
A última legislatura da Câmara Municipal de Belo Horizonte, que se encerrou na semana passada, figurou, em algumas ocasiões, nas páginas policiais. Políticos presos, duas cassações, denúncias de irregularidades e improbidade e operações da polícia foram uma constante nos últimos quatro anos. Com a maior renovação das eleições de 2020, os vereadores que assumiram no dia 1º querem que o Legislativo deixe de ocupar o noticiário policial no próximo mandato.
Cinco vereadores foram presos ou ficaram detidos durante o mandato que terminou na última quinta-feira. Em 2017, Bim da Ambulância (PSD) foi detido após pousar com um helicóptero em uma praia de Guarapari, no Espírito Santo. Um ano depois, o ex-presidente da Casa Wellington Magalhães foi preso em um processo que apura, entre outras coisas, desvio de R$ 30 milhões.
Em 2019, Cláudio Duarte foi preso por suposta prática de “rachadinha” no gabinete. Em outubro do ano passado, Ronaldo Batista (PSC) foi preso após a Polícia Civil indiciá-lo como suposto mandante de um homicídio na capital. No mesmo mês, Bella Gonçalves (PSOL) foi detida em ação contra um despejo que ocorria na região Centro-Sul.
Das 41 vagas na Casa, apenas 17 serão ocupadas por parlamentares reeleitos. Serão 24 novatos. A renovação foi de quase 60% e, na visão dos estreantes, teria sido motivada pela insatisfação dos eleitores.
“A política está desacreditada, e tudo que ocorreu na legislatura passada contribui, e muito, para esse descrédito. Precisamos trabalhar com muita dedicação e seriedade, para resgatarmos a credibilidade perdida, e isso passa por mudanças de atitudes”, avalia Wanderley Porto (Patriota).
Opinião semelhante tem Bráulio Lara, um dos três vereadores eleitos pelo Novo. “É muito ruim saber que existem pessoas corruptas em locais tão importantes da cidade. No entanto, fico satisfeito de saber que elas estão sendo retiradas da vida pública a cada ano que passa. Não podemos dar espaço para esses perfis que acumulam histórico de corrupção e de irresponsabilidade na gestão da coisa pública. Com a renovação que tivemos, certamente vamos ter espaço para ter uma nova perspectiva de trabalho”.
A vereadora mais votada da história da capital e a primeira trans a ser eleita para o cargo, Duda Salabert (PDT) acredita que esse mandato “vai ser um desafio para todas as pessoas eleitas”. Durante seu discurso de posse, na última sexta-feira, a parlamentar lembrou a legislatura passada e fez um alerta aos colegas: “Espero que esta Casa não volte a figurar nas páginas policiais. Espero que nenhum vereador saia desta Casa preso por racismo ou transfobia”, afirmou.
“A população deu o recado”
Professora Marli (PP), mãe do deputado federal Marcelo Aro e mulher do deputado estadual Zé Guilherme, disputou uma eleição pela primeira vez e foi a terceira mais votada na capital. Animada e otimista, como se descreveu, a professora quer defender bandeiras das pessoas com deficiência e que têm doenças raras. Sobre as notícias policiais que assombraram a Câmara nos últimos anos, Marli entende que a cidade optou por uma renovação significativa nas urnas e espera não conviver com esse tipo de situação durante o mandato.
O vereador Walter Tosta (PL) entende que a solução para a Casa não figurar nas páginas policiais é os parlamentares terem comprometimento com “a verdade, a honestidade e a seriedade”.
Estreante, o vereador Marcos Crispim (PSC) disse que acompanhou “com tristeza a Câmara em páginas policiais”. “Acredito que a política deve ser um instrumento de trabalho para o bem comum. Romper com os costumes da velha política é o meu foco. (Temos que) trabalhar bastante”, avaliou o parlamentar.
“A população deu o recado nas urnas, quer políticos diferentes, com atitudes diferentes. Acredito que, com uma renovação de quase 60% na CMBH, podemos entregar uma cidade melhor”, avalia o novato Ciro Pereira (PTB).
Expectativas dos ‘novatos’
Bráulio Lara – Novo
“É muito ruim saber que existem pessoas corruptas em locais tão importantes da cidade. No entanto, fico satisfeito de saber que elas estão sendo retiradas da vida pública a cada ano que passa. Não podemos dar espaço para esses perfis que acumulam histórico de corrupção e de irresponsabilidade na gestão da coisa pública. Com a renovação que tivemos nessa última eleição, certamente vamos ter espaço para ter uma nova perspectiva de trabalho”.
Bruno Miranda – PDT
“Duda Salabert é nossa estrela. Não só do PDT BH, mas de todo partido. Se Brizola estivesse aqui entre nós para vivenciar esse momento, tenho certeza que ele estaria entusiasmado pela força que a eleição dela representa. Podemos divergir em alguns momentos na Câmara, o que absolutamente normal. Mas tenho certeza de que faremos uma bancada de alto nível juntamente com nosso Miltinho, um símbolo da luta pela causa animal”.
Ciro Pereira – PTB
“Espero poder entregar uma cidade melhor para o cidadão belo horizontino. Acredito que com uma renovação de quase 60% na CMBH, temos a chance de fazer história, a população deu o recado nas urnas, querem políticos diferentes com atitudes diferentes. Belo Horizonte precisa avançar, principalmente no mundo pós pandemia, mas tenho certeza que vamos vencer”.
Cláudio do Mundo Novo – PSD
“Estou aberto a ouvir, debater e estudar junto da população formas de melhorarmos nossa cidade. Mais do que uma bandeira, ajudar sempre foi a missão da minha vida, vai muito além de ser político, é isso que faço e o que vou continuar fazendo. Quero estar perto da população carente, moradores de rua, crianças, usuários de drogas e seus familiares. Onde eles estiverem será lá que estarei, pronto para ajudar”.
Dr. Célio Fróis – Cidadania
“Como médico e professor, conheço de perto os problemas da saúde e da educação e, claro, são nossas principais bandeiras, mas teremos no nosso mandato coletivo e participativo uma firme atuação nas questões da mobilidade urbana, nas questões da segurança pública, meio ambiente e no fortalecimento dos núcleos de habitação. Penso que primeiramente devemos descer do palanque eleitoral e pensar nos problemas que iremos enfrentar. Deixar de lado o debate ideológico e trabalhar de forma conjunta políticas públicas que visem melhorar a qualidade de vida da população”.
Duda Salabert – PDT
“Há uma relação direta entre corrupção e espaços autocráticos, antidemocráticos. Então esses escândalos de corrupção que mancharam a CMBH nos últimos anos mostram que ainda falta muita transparência no espaço e falta também ampliar a democracia nessa esfera legislativa. Daí a importância da gente lutar pela transparência, em prol da lisura política e também pela democracia, a fim de retirar a luta política dos cadernos policiais e elevá-la para outra dimensão, que tenha como resultado o bem comum”
Fernanda Pereira Altoé – Novo
“Somos um partido independente que analisa e vota o que é melhor pra cidade. O grande benefício de sermos três está na atuação complementar uns dos outros, o que nos possibilitará ter uma atuação mais abrangente sobre as diversas demandas da cidade, e a possibilidade de participarmos de mais comissões. Eu, Marcela e Bráulio temos perfis de atuação diferentes e isso também é muito positivo”.
Flávia Borja – Avante
“Participei muito do dia a dia da Câmara, de todo o processo legislativo nos últimos quatro anos e foi exatamente isso o que me fez querer disputar o cargo. Tive uma boa “escola política”, a escola da retidão, da firmeza, do caráter e acima de tudo da coragem, através do posicionamento sempre firme do meu marido, Fernando Borja. Com essa experiência percebi a possibilidade de influenciar as decisões da cidade, pautada em uma atuação independente, séria, comprometida com o bem comum”.
Gilson Guimarães – Rede
“Os vereadores vão ter que agora aprender a trabalhar, a legislar e atender às demandas que não estão sendo atendidas. Ali dentro nós temos pessoas que pegaram a Câmara Municipal e tornou-se ali um lugar profissional, um lugar ‘onde eu retiro meu recurso, aonde eu ganho o meu dinheiro’. Ali não é empresa particular de nenhum vereador, ali é um lugar de você atender o povo”
Iza Lourença – PSOL
“Que os vereadores votem projetos pela vida das mulheres, em defesa da vida das mulheres como o projeto de combate ao feminicídio que foi pautado pelas vereadoras do PSOL nessa legislatura e infelizmente não foi votado pelos demais vereadores. Então eu espero que a gente tenha uma legislatura com maior compromisso das mulheres com a vida da população negra, que está morrendo também na nossa cidade vítima de um genocídio histórico onde a gente vê a quantidade de pessoas negras que morrem no nosso país muito maior que a quantidade de pessoas que morrem em guerra em outros países por exemplo e em Belo Horizonte isso não é diferente”
Macaé Evaristo – PT
“O PT manteve as duas vagas que tinha na gestão anterior. O que mudou foi o perfil da bancada. Eram dois homens, dois companheiros que deram contribuições importantes para Belo Horizonte. Agora foram eleitas duas mulheres. O que isso diz para nós? Duas coisas: a educação, que é o meu foco, e a saúde são prioridades para a população da capital mineira. Outra coisa que podemos apurar desta renovação é o desejo das mulheres por mais participação política”.
Marcela Trópia – Novo
“A minha votação expressiva, combinada com a minha experiência prévia na política, também me levaram a ser escolhida pela bancada como a líder nos primeiros um ano e quatro meses. Vamos revezar a liderança e eu fui escolhida para a nossa estreia. Sei também da responsabilidade que é liderar esse nosso trio qualificado de vereadores no primeiro ano”
Marcos Crispim – PSC
“Acompanhei com tristeza a Câmara em páginas policiais. Acredito que a política deve ser um instrumento de trabalho para o bem comum. Romper com os costumes da velha política o meu foco é a dedicação social. Trabalhar bastante através de realização de audiências públicas e a participação popular no meu mandato, quero que seja uma constante. Discutir assuntos relevantes da cidade, e assim contribuir para que a Câmara possa ter um papel de protagonista nas questões políticas de BH”.
Miltinho CGE – PP
“Esperamos fazer um mandato participativo direcionado para a causa animal. Nossas expectativas são as melhores e esperamos honrar cada voto. Fui eleito para ser a voz dos animais, vou ter como bandeira principal a causa animal mas é claro que propostas boas para a cidade iremos apoiar”.
Nikolas Ferreira -PRTB
“O embate pessoal, que eu diria de ideias, ele é necessário. Acaba que quem carrega as ideias são as pessoas, mas ele é necessário. Tudo que nós falamos dentro da Câmara Municipal, por até mesmo eu ter seguidores do Brasil inteiro vai repercutir no Brasil todo, então é necessário defender a verdade”
Professora Marli – PP
A minha missão é cuidar das pessoas com deficiência e doenças raras. Quero dar voz às milhares de famílias que vivem, hoje, na invisibilidade e trabalhar para construir uma sociedade verdadeiramente inclusiva e isso passa muito pela área da educação, pelo direito de acesso à cidade, pelo direito ao lazer e de conviver verdadeiramente em sociedade.
Rogério Alkimim – PMN
“Estou levando para a Câmara Municipal de Belo Horizonte uma experiência que eu adquiri no terceiro setor, vou buscar convênio junto à PBH, fiz uma campanha sem promessas, apresentando para a população o papel do Legislativo que é fiscalizar e apresentar projeto de lei. Isso que eu quero. E eu já ouvi a população, apresentaram demandas, sei que sou o intermediário do eleitor ao Executivo, então quero apresentar projetos de leis concretos e ser bastante atuante”.
Rubão – PP
“Meu mandato vau fazer o que sempre fiz para a sociedade há anos: ajudar. Porém, em um formato mais abrangente, ajudando não só os moradores do meu vetor como todos os belo horizontinos. Minhas bandeiras serão o esporte e lazer, saúde, educação e mobilidade urbana”.
Sônia Lansky – PT
“Nesse momento nós entendemos que há uma expectativa de que mais mulheres ocupem a política. Saímos de 4 mulheres para 11, duas são do PT, estamos com uma frente aí das cinco mulheres de esquerda, mulheres progressistas, de luta, denominamos mulheres de luta para juntas lutarmos mais fortes. Dentre as 11, somos 5 que tem uma pauta explicitamente progressista e de apoio às causas sociais, inclusão social e a redução da desigualdade social, da discriminação racial, da violência contra as mulheres e população negra”.
Walter Tosta – PL
A mudança parte com o comprometimento com a verdade. Trabalhando com responsabilidade, seriedade e honestidade. Primeiro que foi lamentável. Já tivemos oportunidade de registrar junto a mesa diretora atual o nosso descontentamento. Me sinto sim acolhido porque já está previsto no orçamento da câmara uma reforma para que volte acessibilidade no plenário.
Wanderley Porto – Patriota
“A política está desacreditada e tudo que ocorreu na legislatura passada contribui e muito para esse descrédito. Precisamos trabalhar com muita dedicação e seriedade, para resgatarmos a credibilidade perdida e isso passa por mudanças de atitudes”.
Wilsinho da Tabu – PP
“Espero que as discussões sejam ricas e produzam resultados efetivos para os belo horizontinos e para o crescimento sustentável da capital mineira. Tenho como premissa escutar muito e falar menos, sempre trabalhando por uma política de agregação, nunca de segregação. Acredito que teremos plenárias inflamadas, espero que respeitosas e com o olhar voltado sempre para fazermos o nosso papel de servidor público representativo.